sábado, 26 de janeiro de 2013

O holandês voador

Lendas são criadas para mitificar situações, lugares, seres ou pessoas. Assim, guerras, batalhas, castelos e cidades se tornam história. Mas as pessoas, estas se tornam deuses. Outras, já nascem deuses.
Acho que nem ele, nem o irmão, nem ninguém da família, imaginaria que, depois de cruzarem o Atlântico e se instalarem  na ensolarada Califórnia, o sobrenome Van Halen se tornaria o que se tornou hoje.
Sinônimo de deuses. Deus da guitarra. Gênio.

Como toda estória e lendas sobre gênios, a deles não poderia começar mais estranha. Alex queria tocar guitarra e Eddie, bateria. Como o último saía muito de casa pra entregar jornais na vizinhança, o irmão mais velho começou a fazer barulho com as baquetas. Ainda bem. A partir de então, a base e a fundação do que mais tarde viria a ser uma das maiores bandas de rock de todos os tempos, estava solidificada.
Ficar aqui contando a estória do Van Halen como banda, é meio que chover no molhado. Muita coisa já foi dita e escrita, inventada, registrada e filmada sobre eles.
O que compartilho aqui é uma simples homenagem à genialidade de Eddie Van Halen como músico, compositor, performer, artista e pessoa que, como outra qualquer, tem seus defeitos, loucuras, qualidades, e seus altos e baixos.

Foi músico desde pequeno, influenciado pelos pais que também tocavam. Começou a experimentar sons muito cedo, fabricando sua própria guitarra com peças variadas que comprava em separado. Um corpo ali, o braço de cá, a parte elétrica, parafusos ...and let there be sound...
O monstro estava criado!  Let there be rock.
Em 1978, o impacto de seu som e estilo de tocar, vindos de sua criatura  frankenstrat, é algo até hoje meio que incomparável. Numa época em que o punk imperava na Inglaterra e invadia os apertados clubes das ruas da big apple, Eddie chamou pra si a responsabilidade de criar um estilo inovador e grandioso. Levou de volta aos palcos a alegria e a festa, e renovou o tal rock pesado da ensolarada cidade dos anjos.

Como compositor, suas obras são até hoje peças da mais pura arte. Qual guitarrista pós-Eddie nunca ouviu, se embasbacou, ouviu de novo, tentou tocar, se espantou e pensou em se aposentar ao ouvir "Eruption" ? Criador de riffs memoráveis e melodias transgressoras, o maluco não se contentava em compor só nas seis cordas. Em sua longa carreira no comando do Van Halen, que dura até os dias de hoje, compõe tão bem no teclado como na guitarra, e já chega aos ensaios e gravações com as idéias do quer para suas músicas. Ritmo, batidas, divisões de tempo, tudo. Gênio.

Além do guitarrista prima que sempre foi, Eddie também sempre foi um excelente performer. Juntamente com David Lee Roth, Sammy Hagar e mais tarde Gary Cherone - cada qual com seu estilo - conseguiu transformar as apresentações da banda num verdadeiro bacanal de sons, luzes e poses. No auge dos anos 80, participou de vários outros projetos, sendo o mais famoso, um solo característico, marcante e poderoso na empolgante "Beat It" de Michael Jackson. Anos mais tarde, perguntado numa matéria da revista especializada Guitar World como tinha sido o acerto pra fazer o tal solo, e, quanto ele tinha recebido pro trabalho, ele mandou: "Me chamaram e perguntaram se eu tava interessado em fazer. Passei no estúdio, ouvi a música, gostei e fiz o solo. Ficou até legal e aí eu fui embora. Foi isso."

Como pessoa comum, Eddie é assim. Desapegado e ao mesmo tempo ciumento. Mandão de manhã e o melhor amigo do mundo no fim do dia. O red rocker Sammy Hagar, em sua biografia "Red", cita trechos incríveis da convivência entre ambos. Bagunceiro, desorganizado, imprevisível, cruel...  "mas quando ele te abraçava e te pedia desculpas, não tinha como não gostar do cara..." .
Sempre teve um laço de amizade e uma ligação inquebrantável com seu irmão Alex Van Halen e dizem que, nas brigas e discussões entre os dois, a coisa chegava às vias de fato. Porradaria. E no outro dia, um six-pack de cerveja (pra cada um) selava a paz nas trincheiras holandesas. Coisa de irmãos.
Teve sérios problemas com o álcool e se internou em rehabs algumas vezes. Extirpou um câncer na língua, provável consequência do excesso de cigarros. Há pouco tempo, cancelou alguns shows da nova tour do Van Halen pra cuidar de uma diverticulite.
O rock sempre cobra seu preço. Principalmente dos gênios.

Obrigado Eddie por  "Panama", "Dreams", "Jump", "And the cradle will rock", "Right Now", "Jamie´s Cryin' ", "Runaround" e tantas outras.
Ouvindo suas canções, quantos de nós já não dançaram noite a dentro como se estivéssemos no topo do mundo, sem conseguir parar de amar aquela linda mulher. Quantos de nós não pulamos, não sonhamos e nos perguntamos se aquilo não poderia ser amor...
Parabéns holandês voador, por mais um ano de vida e música!!


Foto: Google

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