quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

Rockviews - Django Unchained


Por Leonardo Santos

Em primeiro lugar, caso você conheça o original "Western Spaghetti" de Sergio Corbucci, interpretado por Franco Nero, esqueça. O Django de Tarantino não é um "remake". Na verdade, tem pouco ou nada a ver com o antigo. A escolha do nome, aliás, me parece mais uma brincadeira e homenagem do diretor do que qualquer outra coisa. Afinal, se o filme se chamasse "John Wayne" faria quase tanto sentido quanto. Além disso, após tantos filmes, vou supor que você já está acostumado ao humor "mais que negro" de Quentin, bem perto do limite do doentio, e sabe apreciá-lo.  Caso contrário, ignore este filme e nem leia esta resenha. 

Para começar, o Django de Tarantino é interpretado por Jamie Foxx, o que o tem o efeito colateral óbvio de torná-lo negro. Calma, antes de me acusar de discriminar as pessoas pela cor da pele, deixe-me lembrá-lo de que o filme é passado no chamado "velho oeste" americano, onde existia a escravidão dos afro-decendentes, além de uma fortíssima discriminação. Django, aliás, é um escravo, que é libertado pelo caçador de recompensas de origem alemã Dr King Schultz (Christoph Waltz), com quem acaba fazendo um acordo para resgatar sua esposa, também escrava. A busca acaba levando os dois à "Candyland", uma enorme fazenda produtora de algodão de propriedade de um tirano mimado chamado Candie (Leonardo DiCaprio) apaixonado por lutas sangrentas entre escravos negros. 

Tarantino tem, entre os outros méritos, a capacidade de saber escolher muito bem o ator que interpreta cada personagem. Jamie Foxx tem o poder de fazer você acreditar em absolutamente qualquer coisa que ele diz ou faz. Waltz, que fez o militar nazista Cel. Hans Landa em Bastardos Inglórios, está novamente excelente fazendo... bem, fazendo de novo um "Hans Landa" de coração mais mole no velho oeste, com o mesmo senso de humor fino e elegante. E apesar de você ser um machão que odeia o jeito de estrela de "boys band" de DiCaprio, tente colocar de lado esta idéia e observe que ele realmente faz muito bem o papel de um senhor latifundiário que, desde sempre, esteve acostumado a acreditar que o mundo existe para servi-lo. Mas apesar de todas as ótimas interpretações, quem rouba a cena é mesmo Samuel L. Jackson. Jackson cria o originalíssimo Stephen, um negro de 75 anos que desde sempre viveu em Candyland e se tornou uma espécie de administrador bajulador, tradicionalista e extremamente preconceituoso em relação à sua propria etnia. Ele é, ao mesmo tempo, cruel, hilário, inteligente e extremamente carismático e, de repente, você passa quase a gostar de um dos sujeitos mais vis que já conheceu. Seu olhar malevolente é inquietante e simplesmente extraordinário. 

Neste filme, o singular senso de humor de Tanrantino é levado aos extremos. Mas sim, é uma fórmula já bem conhecida. Se você assitiu seus outros filmes, já sabe mais ou menos quando uma cabeça vai estourar como um melão, um braço vai voar, alguém vai explodir sem justificativa... este tipo de coisa. Com sempre, as cenas de violência são propositadamente exageradas, os corpos parecem odres jorrando vinho quando baleados. É um esquema que você já viu antes, mas ainda é divertido, muito divertido. Mas uma coisa, ao mesmo tempo interessante e assustadora, é que após ver o humor de Tarantino explorar a crueldade exarcebada com que os escravagistas tratam os negros no filme, você ainda pode pensar que aquilo realmente não deve estar longe da realidade. 
Existem vários momentos que mostram todo o talento do diretor, que traz um divertimento único para a audiência em cenas com sua direção original e impecável. Tarantino lida com a tensão e humor lado a lado de uma forma que ninguém mais no cinema consegue fazer. É como se o tempo inteiro ele quisesse atraí-lo para uma uma espécie de "pegadinha", para depois rir da cara que você fez. 

É um filme excelente, mas não perfeito, claro. Considerando todo o pleonasmo de dizer "na minha opinião" (afinal, se não fosse MINHA OPINIÃO não seria MINHA RESENHA!), Tarantino acaba caindo em uma armadilha comum em filmes muito longos: o final perde o clímax. Calma, não me apedreje, deixe-me explicar. É simplesmente como se o final chegasse naturalmente e o diretor insistisse em estender o filme um pouco mais, mas acaba perdendo o ápice, tenta voltar e não consegue recuperá-lo depois. Quase três horas de duração são um pouco demais. 
No fim, o filme traz toda aquela diversão sádica e quase sem sentido em uma dose muito maior do que Bastardos Inglórios jamais consegue fornecer e mostra, novamente, o melhor de Tarantino desde Pulp Fiction.  Simplesmente ótimo. 

Foto promocional


  1. Django 
  2. Ano de produção: 2012
  3. País: USA
  4. Tempo de filme: 165 mins
  5. Diretor: Quentin Tarantino
  6. Cast: Amber Tamblyn, Bruce Dern, Christoph Waltz, Don Johnson, James Russo, Jamie Foxx, Jonah Hill, Joseph Gordon-Levitt, Kerry Washington, Kurt Russell, Leonardo DiCaprio, Robert Carradine, Samuel L Jackson, Zoe Bell

Nenhum comentário:

Postar um comentário