sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

Onde há fumaça e fogo... bom senso!

Quando há trinta anos atrás começamos a sonhar com o que viria a ser o Overdose, umas das primeiras idéias e preocupações era com a parte visual da banda. Óbvio -  eu, +Claudio David e o Bozó éramos fãs de Kiss, até hoje, os reis do marketing visual e das pirotecnias. Os famosos "foguinhos" se tornaram, com o tempo, uma marca registrada em nossos shows e apresentações nos mais diversos palcos aqui do Brasil. Dentro de nossas limitações, tanto financeiras quanto criativas, nunca tivemos nenhum problema sério com relação aos efeitos especiais que usávamos. Graças a Deus?? Não... graças ao bom senso. Bom senso este que vem fazendo falta às pessoas em geral já há algum tempo.

Sempre admirei a seriedade e o profissionalismo dos gringos do primeiro mundo. Essa coisa da especialização, de fazer o melhor e ter a certeza do retorno e lucro garantidos seja em que área for.
E se tem uma coisa que eles fazem bem é entreter. Na indústria do entretenimento, se o sujeito é o responsável pelos efeitos especiais numa produção hollywoodiana, ele é dos bons. Se o cara é o responsável pela segurança em um evento, ele é mesmo. Se das autoridades locais de lá, se espera fiscalização e cumprimento das leis, você terá. Se um artista quiser usar em sua turnê, fogos e pirotecnias, o mesmo será fiscalizado, autorizado e responsabilizado se algo der errado.
Claro, "shit happens" e já tivemos alguns casos em que algo saiu muito errado. O caso do incêndio no show da banda de hard rock Great White (Rhode Island, 2003) é bem parecido com a recente tragédia de Santa Maria. Mais de cem mortos e, tanto a banda e empresários, quanto os proprietários e prestadores de serviço, responderam perante a Justiça norte-americana.
Na fria Montreal, em 1992, outro episódio famoso nos anais do hard rock teve ares de tragédia. Na então bombástica "Guns 'n Roses/Metallica Stadium Tour", ao pisar muito perto de uma pirotecnia, James Hetfield, guitarrista e vocalista do Metallica, acabou presenteado com severas queimaduras em seu braço esquerdo e a banda forçada a cancelar o restante do show. Após vários atrasos e decorrentes problemas técnicos, o Guns 'n Roses e seu polêmico frontman Axl Rose também resolveram cancelar sua apresentação. Resultado: a então já enfurecida platéia saiu do estádio queimando carros, saqueando lojas e causando tumulto pelas ruas da cidade.
E  os quatro cavaleiros Metallicos do apocalipse gostam mesmo de brincar com fogo. Minha amiga +Adriana Chiarini  fala do mico que pagou num show no dia 16 de setembro, 1996, em Paris, quando no meio do show dos caras "apareceu um fio tipo aqueles de alta tensão de filmes de cinema, bem no meio do palco, chicoteando e soltando faíscas para todo o lado. Parecia q ia pegar fogo em tudo."  Só muito tempo depois ela descobriu que era encenação e tudo não passava de uma grande brincadeira. Até pra fazer "pegadinha", tem que se ter seriedade, responsabilidade e competência.

Aqui na nossa terra do pau-brasil tudo é sempre exagerado. Nossas conquistas são as mais comemoradas, as mais sofridas, somos os melhores no futebol e somos os mais festeiros. Temos a melhor música, o carnaval, o frevo e a bossa nova. Somos campeões da alegria e da sacanagem. Mas também somos experts em dar de ombro e fingir que não é com a gente. Graduados em levar vantagem em tudo. Somos MBAs em falcatruas e jeitinhos. Mestres e doutores em corrupção. E nas tragédias, tudo se torna assustadoramente mais doído.
Como acontece sempre após uma tragédia da magnitude e repercussão que foi essa de Santa Maria, no Rio Grande do Sul, agora é hora da caça às bruxas. Antes tarde do que nunca? Aceito, mas não concordo. É sempre depois. Reuniões das autoridades (in)competentes com acusações mútuas, centenas de fiscais batendo nas portas dos inferninhos, multas e autuações pipocando e enchendo os porquinhos públicos. Bares e casas noturnas sendo auto-fechadas.  Bom, não é?   Para os editores, repórteres e âncoras das poderosas, pode ser. Notícia e assunto pra mais de mês.
Mas o que precisamos realmente, é do tal do bom senso. Bom senso na hora de legislar e bom senso na hora de executar. Na hora de fiscalizar e na hora de cobrar. Na hora de noticiar e na hora de interpretar. Na hora de entreter e divertir, na hora de tocar, beber e (não)dirigir. Bom senso no cumprimento correto do trabalho e na profissão escolhida por cada um de nós.
Como músico prestador de serviço nas casas noturnas de Belo Horizonte não tenho problema algum em criticar ou elogiar meus empregadores. Nem de reportar ou denunciar. Alguns já devem estar perguntando "Pôxa, mas se a casa fechar, você não tem medo de perder sua boquinha?".
Não. Tenho bom senso.



Efeitos pirotécnicos num show do Overdose. Foto: Ricardo David - 1986



Confira abaixo, a partir dos 4:45, a "pegadinha" do Metallica




7 comentários:

  1. Assino em baixo meu amigo! Fui durante muito tempo o responsável pelos efeitos da Overdose, daí o apelido Bomber, e o bom senso sempre foi a pauta principal de nossas definições quanto ao que apresentarmos ao público...e nunca tivemos problemas...e anda faltando muito disso por todo lado...e para qualquer tipo de negócio ou atividade. Abração
    Alex Bomber

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  2. Nossas tragédias são na maioria das vezes anunciadas... Saber que o problema existe e dizer: Mas isso nunca vai acontecer comigo... Adiar soluções... Fazer vista grossa... Brasil:referência mundial do deixa que agente arruma um jeitinho. Bom senso? O que significa isso???

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  3. Este comentário foi removido pelo autor.

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  4. Fernando, seus textos são sempre muito bons. Idéias pertinentes e inteligentes. Gosto da maneira com que você desenvolve os temas e passa sua mensagem com leveza e criatividade. Parabéns por mais esta postagem e, por favor, continue nos presenteando com suas palavras. Abração.

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