quarta-feira, 8 de maio de 2013

Rockviews: Queensryche - Frequency Unknown

Por Leonardo Santos

Tudo bem, um monte de confusão na história deste álbum. Tudo parece ter estourado, curiosamente, no nosso amado Brasil, em um show realizado em 14 de abril de 2012, São Paulo, quando, furioso com a demissão da sua esposa (empresária da banda) e sua filha de criação (presidente do fã clube), Geoff Tate partiu para agressão física e "cuspidas" (é, deste nível) contra o baterista Scott Rockenfield e o guitarrista Michael Wilton da banda Queensryche. Cansados dos surtos do vocalista, os outros membros fundadores, Rockenfeld, Wilton e Jackson, decidiram colocar o turbulento Tate no olho da rua. Houve, então, uma disputa judicial sobre quem teria o direito de utilizar o nome "Queensryche"  e o resultado foi que, até a próxima audiência judicial agendada para novembro deste ano, as duas partes poderão fazer uso do nome. Então podemos ter duas bandas chamadas Queensryche e com mesmo logo?! Yeah, isso aí! Bem vindo à bagunça!

O que aconteceu depois foi uma corrida de Tate para lançar seu álbum, já que o outro Queensryche já anunciara a contratação de Todd la Torre (Crimson Glory) para os vocais e um novo trabalho. Para isso, Geoff convidou um time de músicos talentosos e consagrados, que inluia o ótimo guitarrista Glen Drover (Megadeth, King Diamond), depois substituído por Robert Sarzo. O interessante é que o motivo para saída de Drover foi o fato de que o guitarrista afirmou esperar algo na linha dos cinco primeiros álbuns do Queensryche e disse não estar contente com os rumos definidos por Tate. Pois é....
Para vencer a corrida, o álbum foi escrito por seis músicos (!!!): o próprio Tate, Jason SlaterLukas Rossi, Randy Gane, Martín Irigoyen e Chris Cox. O resultado foi que, em apenas seis semanas, Frequency Unknown já estava pronto. Questionado sobre o motivo de tanta pressa para o lançamento, Tate disse que foi para coincidir com as datas das turnês. Acredite... se quiser. A capa é mais uma provocação, mostrando um punho fechado e a abreviação F.U., uma sigla comumente utilizada para Fuck You. Nem o próprio Tate teve cara de pau suficiente para negar o propósito. 
Após toda esta novela, podemos falar do álbum em si. Vamos começar pela produção.... praga, esqueci de mais essa! O álbum foi produzido por Jason Slater, que havia produzido os últimos três álbuns do Queensryche. Aparentemente, as críticas e o próprio Tate não ficaram totalmente satisfeitos com a produção e um novo álbum, remixado, foi lançado. Acontece que as cópias anteriores não foram recolhidas e foram comercializadas, então temos duas mixagens diferentes para este mesmo álbum! Segundo a gravadora, isto dá ao cliente o direito de escolher qual som lhe agrada mais, uma "boa vantagem". Deus nos acuda! Mas o fato é que a produção está bastante decente e não vi mesmo nada de errado. Nada brilhante, mas está na média dos lançamentos das grandes bandas de metal. Para dar mais peso ao lançamento, temos vários convidados. Nos solos de guitarra e produção, colaboraram K. K. DowningChris PolandTy TaborBrad GillisDave Meniketti (este cara é bom!) e Chris Cannella, enquanto que Nina Noir fez vocais de apoio. Além disso, para a gravação de várias músicas, foram utilizados músicos de estúdio ao invés da banda anunciada por Tate. Tudo em nome do prazo.

Você deve estar pensando que, de toda esta confusão e "mexidão" de músicos, não pode sair nada bom. Verdade, não pode. F.U. é um álbum que não tem absolutamente nada a ver com o que o Queensryche já fez, longe até mesmo dos fracos dois últimos lançamentos da banda. Mas ok, vamos deixar nosso tradicionalismo de lado, afinal, quem disse que Tate não pode se fazer algo diferente e ser bom? O real problema é que F.U. é um álbum com um rock moderno pasteurizado e, definitivamente, existe muita gente que já faz a mesma coisa muito melhor. Alguns solos são realmente legais, mas não tem nada muito inspirado nos riffs. Tudo é insosso, sem graça, como um "fast food". Com boa vontade, podemos fazer excessão a "In the Hands of God", uma música com melodias realmente bonitas e uma atmosfera que lembra um pouco o Queensryche. Fora isso, tudo parece uma coisa encomendada, expressa.
Agora, vamos à cereja do bolo: as quatro regravações. Por quê diabos regravar três clássicos que já são perfeitos em suas versões originais? Segundo o próprio Tate, a razão é simples: muito dinheiro. A gravadora queria ter os direitos sobre estas músicas e fez a encomenda. Simples assim. Mas aí temos um problema: a voz. Tate nitidamente sofre para atingir as notas mais altas, o que fica bem evidente em "Empire", e não exibe mais aquela voz límpida e potente de antigamente. Enfim, é de se esperar que ele não cante mais como um colibri, mas não é só isso. Seu timbre mudou também nos tons mais graves, o que sempre havia sido um diferencial. Afinal, sempre existiram muitos vocalistas capazes de atingir notas muito altas, mas poucos que, ao mesmo tempo, tinham uma voz tão bonita e encorpada nos tons mais graves. Isso se perdeu. Ouça "Silent Lucidity" para entender do que estou falando. Não me entendam mal, ele canta estas músicas ainda de forma decente e ficaria bem num show ao vivo, mas em uma gravação de estúdio a comparação é inevitável e os pontos fracos ficam evidentes demais. Fica claro, também, porque ele se limita aos tons médios nas músicas inéditas, onde ele ainda mantém um timbre realmente bonito. 

No final, F.U. não é um álbum execrável,  mas não consegue mais do que  um rock modernoso medíocre, bem diferente e aquém, aliás, do que aqueles músicos sabem fazer. 
Tate grita aos quatro ventos que os últimos álbuns do Queensryche foram criações suas. Bom, isso não é exatamente uma vantagem e ouvir "Frequency Uknown" faz pensar que, por mais que me doa admitir (sou fã assumido dos primeiros álbuns do Queensryche e da voz de Tate), sua saída da banda pode realmente fazer bem aos que ficaram. Nos resta, agora, aguardar pelo álbum do "outro Queensryche". Não confunda, se puder!




Selo Deadline
Data Lançamento:  23 de abril de 2013


Músicas:
01. When Lightning Strikes
02. Running Backwards
03. Fallen
04. Life Without You
05. In The Hands Of God
06. Cold
07. The Weight Of The World
08. Slave
09. Dare
10. Everything
Bonus
11. Silent Lucidity
12. Empire
13. Jet City Woman
14. I Don' t Believe In Love


Músicos
Geoff Tate: vocais 
Kelly Gray : guitarras
Robert Sarzo: guitarras
Rudy Sarzo: baixo
Randy Gane: teclados
Simon Wright: bateria

Um comentário:

  1. Legal Leo. Sempre leio seus textos. Ajudam bastante! Nessa vida corrida que a gente leva não sobra muito tempo pra ficar "garimpando" as novidades boas (ou ruins) que aparecem por aí, e você facilita a minha vida! Thanks for your help! :-)

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