Eu sei, é muito mais interessante fazer a resenha logo que o álbum foi lançado. Mas me permita aqui algo um tanto emocional. Afinal, dificilmente terei oportunidade de fazer isto com outro álbum do Riot. Depois da morte do grande Mark Reale (1955-2012), fundador e principal compositor da banda, o lançamento de outro álbum inédito do Riot é mais que improvável. Como em 2011 não existia Rockviews e não quero deixar esta fantástica banda passar em branco nas minhas resenhas, deixe-me falar um pouco sobre o Immortal Soul, lançado no fim de 2011, pouco tempo antes do mal terrível conhecido como Doença de Crohn finalmente vencer a luta contra Reale.
O Riot com certeza é uma das maiores bandas de Metal fora do mainstream. Com mais de 36 anos de carreira e 14 álbuns de estúdio, todos com uma consistência impressionante, a banda possui uma ficha invejável, mesmo quando comparada aos medalhões do estilo. E apesar de nunca ter estourado para o grande público, possui uma fanática legião de seguidores. Basta ler as resenhas internacionais de Immortal Soul para entender o que estou falando: poucas são desprovidas de paixão.
A história deste álbum vem de muitos anos atrás. Pouco depois do lançamento de Born in America, em 1983, a banda se separou e correu o risco de um fim definitivo. Mark Reale tenta outros trabalhos, mas, sem muito sucesso, decide renovar a banda e voltar com um novo Riot. Para isso, recrutou o fantástico vocalista Tony Moore e o resultado foi um marco definitivo no Power Metal: Thundersteel. A voz de Moore atingia tons ridiculamente altos, com controle e limpidez fenomenais, e a nova formação permitiu ao Riot uma agressividade ainda não vista nos seus álbuns anteriores. Muitos consideram Thundersteel o primeiro álbum do estilo chamado de Power Metal e, por favor, não confundam com aquela canção de ninar que bandas como Edguy fazem e alguns insistem em colocar no mesmo balaio. Dois anos depois, o Riot lança Privilege of Power, um álbum "político" e com músicas mais cadenciadas. Posteriormente, Tony Moore sai da banda por divergências com o empresário Steve Loeb e começa a era Mike DiMeo.
Certo, jovem, mas o que isso aí tem a ver com Immortal Soul? Acontece que, mesmo tendo uma série de bons lançamentos com DiMeo, o Riot adotou uma linha um pouco mais leve e muitos fãs ansiavam pelo retorno aos tempos de Thundersteel. Após 5 anos do último álbum com DiMeo em 2006 (Army of One), Mark Reale teve, então, a bela idéia de recrutar os mesmos músicos da era Thundersteel/Privilege of Power e gravar um novo álbum. Uma chama adormecida era despertada nos fiéis.
Passados mais de 20 anos, não podemos dizer que a voz de Tony Moore permaneceu intocada. Ela perdeu um pouco daquele timbre cristalino e seu registro ficou um pouco mais baixo, mas ele ainda consegue alcançar notas estratosfericamente altas e isso é notável para um cara que exige tanto da sua voz. Apesar da faixa de abertura "Riot" ser uma das mais agressivas já feitas pela banda, o álbum não é (nem deveria ser) um Thundersteel atual. Immortal Soul varia entre o Power Metal e o Heavy Metal tradicional, sempre com melodias fortes e sem nenhuma balada. Os riffs de Flyntz e Reale são uma pedrada atrás da outra. Stavern faz um trabalho extremamente preciso no baixo e Jarzombek mostra ser um power baterista de primeira. A produção do álbum também está um ponto acima da maioria dos álbuns de metal e é de alta qualidade.
É interessante lembrar que Mark Reale já estava muito doente durante as gravações, então a maior parte da execução ficou a cargo de Flyntz, que tocou com maestria as grandes idéias de Reale. Não gosto muito de comentar faixa por faixa, fica enfadonho, mas Wings are for Angels é uma grande música de Power Metal que todo fã tradicionalista deve adorar e o resto do álbum é, de maneira geral, um ótimo trabalho, com faixas que mostram músicos excepcionais, um vocalista ainda excelente e o gênio criativo do fundador da banda.
Tendo Immortal Soul como último legado, Mark Reale pode descansar orgulhoso.
Riot
Immortal Soul
Data de lançamento: 22 de novembro de 2011
Selo: Steamhammer
Duração: 53:02
Músicas:
01. Riot
02. Still Your Man
03. Crawling
04. Wings Are For Angels
05. Fall Before Me
06. Sins Of The Father
07. Majestica
08. Immortal Soul
09. Insanity
10. Whiskey Man
11. Believe
12. Echoes
Foto: Facebook - RiotRockCity |
Músicos:
Mark Reale – Guitarra
Tony Moore - Vocais Bobby Jarzombek – Bateria
Don Van Stavern – Baixo
Mike Flyntz - Guitarra
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