quarta-feira, 6 de março de 2013

A árvore Púrpura - Parte 2

Então Ian Gillan e Roger Glover estavam fora! Os agora três remanescentes originais, Ritchie Blackmore, Ian Paice e Jon Lord não queriam e nem podiam perder tempo em encontrar os substitutos corretos para os lugares de front man e baixista da banda.

Com uma formação totalmente calcada no soul e no funk, o talentoso baixista e também exímio vocalista Glenn Hughes já vinha atraindo a atenção da moçada e da mídia especializada com seu Trapeze, lotando alguns shows e com álbuns relativamente bem sucedidos. Depois de receber o convite oficial, Hughes titubeou. Ele amava o tipo de música que fazia no trio, tinha uma senhora química com Mel Galley e Dave Holland, e as perspectivas eram as melhores à época do lançamento do excepcional "You are the Music...We´re just the band". Mas não teve como escapar: afinal de contas, ele estava sendo convidado para integrar o já multi-platinado Purple!
Para a vaga de vocalista principal, Paul Rodgers era a aposta certa. Desempregado do Free e ainda sem planos para iniciar novos projetos, recusou na última hora - ainda bem, ou não teríamos conhecido outra super-banda, o Bad Company. Através de uma fita cassete e uma indicação de um empresário local, os purples chegaram então até David Coverdale, um cantor um tanto obscuro mas com um característico timbre blueseiro. Mesmo sem muita experiência no que dizia respeito à estrutura das grandes bandas, a dupla Coverdale/Hughes se entrosou e caiu como uma luva. O resultado foi o antológico "Burn" que, além da faixa título, trazia ainda futuros hits como "Mistreated", "Might Just take your life" e "Lay Down Stay Down". Embalados pelo sucesso do álbum e pela receptividade da nova formação junto aos purplemaníacos, gravaram logo em sequência "Stormbringer" , um álbum ousado, cheio de grooves, diferente de quase tudo que o Deep Purple já havia feito. A bolacha foi a gota d´água para que Blackmore torcesse o nariz e começasse a correr atrás do cobiçado pote de ouro no final do arco-íris. Ainda com essa formação, lançaram o derradeiro "Made in Europe", registro dos últimos shows da turnê européia de "Stormbringer". Com momentos no mínimo épicos, como nas vigorosas "You Fool no One", "Lady Double Dealer" e também na incendiária abertura de "Burn", o álbum é até hoje, juntamente com o póstumo "Live in London", prova cabal do poder sonoro da lendária e fantástica MK III. Registrado através das lentes de uma emissora norte-americana, a performance da banda como headliner no sensacional festival "California Jam" de 74 é também simplesmente arrebatadora. 


Em abril de 1975 o gênio de preto estava fora - e em junho, Tommy Bolin conseguia a gig depois de um satisfatório teste e de um curriculum respeitável para um garoto metido a guitarrista de fusion: Billy Cobham, Alphonse Mouzon, James Gang, além de uma promissora carreira solo brilhantemente inaugurada com o marcante álbum "Teaser". "Come Taste the Band" chegava às prateleiras no final daquele ano e, com pérolas como "Love Child", "You Keep on Moving"e "Drifter", reacendia a esperança de que nem tudo estava perdido.
Mas a definição exata do que era o Purple MK IV à época: um baterista no auge de sua técnica como instrumentista; um baixista que cantava demais e também cheirava demais; um guitarrista com braços dormentes de heroína que não conseguia executar ao vivo as partes que a ele cabia; um competente vocalista que já previa o fim do grupo, e um já esgotado e multi-talentoso tecladista tentando segurar todas as pontas possíveis.


A esperança durou pouco e em março de 1976 deu-se oficialmente encerrado o primeiro reinado do Deep Purple: quatro formações diferentes, onze álbuns oficiais de estúdio, dois álbuns clássicos "ao vivo" ("Made in Japan" e "Made in Europe"), inúmeros registros de shows, bootlegs, fama, fortuna,  sexo, drogas e rock and roll.

No restante daquele ano, Glenn Hughes sumia do mapa e mergulhava em cheio no vício. David Coverdale já se organizava em projetos solo pré-Whitesnake enquanto Paice e Lord fundavam o Paice, Ashton & Lord, juntamente com o bebum Tony Ashton.
E em dezembro de 76, o então promissor guitarrista Tommy Bolin é encontrado morto por intoxicação de múltiplas drogas.


O Deep Purple MKIII (na foto sem Ian Paice): no topo das paradas e do mundo.

Confira aqui "Burn" em histórica performance no festival California Jam:


Na Árvore Púrpura - Parte 3: Cobras brancas, arco-íris, castelos e montanhas prateadas!

Um comentário:

  1. California Jam é um daqueles shows que a gente sabe de cor. Já sonhei que eu estava lá, de tanto ver o video. Engraçado que não gosto muito da gravação do Burn e do Stormbringer em estúdio. Talvez por culpa do California Jam. A energia das músicas ao vivo fazem as versões de estúdio parecerem fracas. O Made in Europe e o Live in London(!!!) mais do que confirmam isso.

    O Trapeze é simplesmente fantástico. O album Medusa é indispensável. Uma jóia rara!

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