Dizem que um dos arquétipos do meu signo, o das ferroadas, é ser observador. Ando sempre pelas ruas atento ao que está se passando e tenho reparado nas caras e bocas dessa turma moderna. Com smartphones, iphones, tablets e outros em punho, vejo olhares felizes, risos largos e uma cumplicidade ímpar transmitidos pelas ondas invisíveis das bandas, nem tão largas assim, de nosso sistema de telefonia.
Encostados num poste, escondidos numa marquise, ou mesmo parados numa esquina, os amantes da nova geração estão felizes - afinal de contas brigar, discutir a relação ou implicar pelo teclado mobile dá muito trabalho. Muito mais fácil e muito melhor é mandar uma carinha feliz, postar uma foto apaixonada ou mudar o status para "em um relacionamento sério".
Nos bons tempos, além de cartas apaixonadas, flertadas inocentes e telefonemas demorados, um dos meus métodos preferidos era usar a música. Descobri que isso daria muito certo quando lá na antiga 5a série, emprestei com certa relutância meu vinil do Queen que tinha "aquela linda música de amor".
Uma semana depois, o "A Night at the Opera" voltou pra minha prateleira com um bilhetinho perfumado, escrito na mais linda caligrafia feminina. Indescritível!
Meado dos anos 80. No auge da minha adolescência-quase-vida adulta, o hard rock e o heavy metal estavam em alta, assim como meus hormônios. Para a felicidade dos quase marmanjos e das mocinhas rockeiras, depois que Nikki Sixx e o Motley Crue lançaram a clássica "Home Sweet Home", tornou-se quase uma obrigação que todas as bandas e artistas de rock pesado tivessem em seus álbuns pelo menos uma balada. E justiça aqui seja feita: Scorpions, Def Leppard, Journey, e vários outros, já tinham lançado, muito antes, fantásticas canções em um andamento mais lento. Sem falar nos bad boys de Boston que, lá em 1973, já na abertura de seu homônimo álbum de estréia "Aerosmith", mandavam a belíssima "Dream On". As letras falavam de amor, paixões não correspondidas e dos infortúnios da vida em geral. Nessa nostálgica época minha, com certeza absoluta, a TDK e a BASF (pra quem não conhece, antigas multinacionais que produziam as longínquas fitas K7) ficaram mais ricas às minhas custas. Quantas fitas com coletâneas de baladas gravei tentando impressionar minhas pretendidas!
Vejamos aqui um exemplo fictício mas que na época pode muito bem ter acontecido:
Lado A
1- Always Somewhere - Scorpions
2- Bringin' on a Heartbreak - Def Leppard
3- Home Sweet Home - Motley Crue
4- I won't forget you - Poison
5- Never Say Goodbye - Bon Jovi
6- Angel - Aerosmith
Lado B
1- Open Arms - Journey
2- Still loving You - Scorpions
3- I Still love You - Kiss
4- Too late for Love - Def Leppard
5- Love of my Life - Queen
6- The Price - Twisted Sister
Depois, veio a segunda leva do hard rock, as conhecidas bandas hair metal e suas exageradas e também cativantes baladas: Winger, Cinderella, Tesla, Firehouse, Warrant, Skid Row, Extreme, só pra mencionar algumas. A era dos videos e da MTV. Nesse meio tempo, tivemos também a transformação do formato analógico para o digital, e a febre dos maravilhosos compact discs marcou outra época. Os disquinhos nos permitiam armazenar mais músicas e mais veladas declarações de amor podiam ser enviadas.
Depois veio o PC, a internet, o mp3 e o início do fim do amor musical como eu conheci.
Hoje, se perguntarmos para uma linda mulher, sertaneja que for, o nome de uma canção de amor preferida, é bem capaz que a resposta seja: "Ahh, não sei não. Acho que é a faixa oito no meu ipod." Elas e eles já não tem mais tempo. Muita coisa pra compartilhar, pouca coisa pra sentir e menos tempo ainda pra se expressar.
Outra característica dos das ferroadas: somos românticos inveterados. Acredito que ainda reste uma esperança pra esse povo moderno. É só reparar nas expressões de felicidade, quase insanas, que eles e elas fazem usando seus dispositivos móveis. Parados numa esquina, debaixo de uma marquise, ou encostados num poste. No ponto de ônibus, irracionalmente atravessando uma rua ou mesmo dentro dos carros, ilegalmente atrás dos volantes. O amor está no ar!
E como diria ainda John e Paul, "All we need is Love..."
Mesmo que seja em 3G!!
Fonte: Youtube
Existem tantas coisas pra falar, tantas coisas pra fazer...
ResponderExcluirMas agora, eles falam sozinhos de frente a essas máquinas.
Observando...
Lendo...
Pensando...
As pessoas não precisam de pessoas mais, elas não procuram amor, procuram por números:
110001001110001000111001100001100010000111000010010000100101110010110000101010010101000001010100010101010101001010101010101010101010101010101000010101010101010101010101010101010101010101010101